26 de novembro de 2010
 


Os novos piratas

 

O anúncio do novo conceito estratégico da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) deve ser encarado com seriedade e temor por todos os povos – em razão dos perigos que representa para a paz mundial. 

Além de se constituir numa excrescência jurídica e política – já que a aliança militar assume agora objetivos que não fazem parte do seu âmbito de ação – a expansão da organização indica de maneira clara a sua intenção de se sobrepor, subverter e até mesmo negar a existência da Organização das Nações Unidas como a instituição que congrega os países e zela pela segurança e harmonia dos povos da terra. 

A emergência da nova OTAN do Terceiro Milênio coincide com a explosão de uma gigantesca crise econômica vivida pelos seus membros e leva a pensar que essa expansão pretende abrir caminho para a retomada da velha política do imperialismo militar com matizes de um novo colonialismo, agora sob o pretexto de defesa do patrimônio da humanidade e dos recursos naturais da Terra, que os próprios países componentes da OTAN exauriram incansavelmente. 

Ao apresentar as razões que poderiam justificar uma intervenção da organização em qualquer parte do mundo, sempre que julgar que os interesses de qualquer um de seus membros estiverem sendo ameaçados, o secretário-geral da aliança militar, Anders Fogh Rasmussen, um político racista e de tendências fascistóides que já foi primeiro-ministro da Dinamarca, anunciou os seguintes pontos: 

Pirataria

Segurança e defesa cibernética

Mudança climática

Eventos extremos do clima – tempestades catastróficas e inundações

Elevação do nível do mar

Migrações de populações em grande número para outros territórios já habitados, e em muitos casos além de suas fronteiras territoriais...

Escassez de água

Secas

Diminuição da produção de alimentos

Redução da calota polar, o que permite que os recursos que estavam cobertos fiquem expostos e passem a despertar o interesse de outros países e empresas

Aquecimento global

Emissões de CO2

Eficiência energética e a redução da dependência dos recursos de energia externos, etc.

Percebe-se assim que, após garantir a segurança estratégica dos Estados Unidos e de seus aliados – ao estabelecer cabeças de ponte nos Bálcãs, na Ásia Central e do Sul, no Cáucaso, no Golfo Pérsico, no Chifre da África e no Golfo da Guiné, além da instalação de armas nucleares na Europa e da possível criação de um escudo antimísseis – a OTAN se outorga agora de forma unilateral e sem consulta prévia aos outros países o mandato de resolver praticamente todos os problemas da humanidade. 

Em todo este episódio, que assume ao mesmo tempo ares de tragédia e de ópera bufa, alguns fatos periféricos chamam a atenção. Conforme se anunciou no último mês de julho, o grupo de especialistas que elaborou o seu novo projeto estratégico tem como presidente a notória Madeleine Albright, que coordenou os ataques de 78 dias contra a Iugoslávia em 1999 e ficou igualmente famosa por responder a uma pergunta sobre o que pensava das 500 mil mortes de crianças iraquianas, resultantes do bloqueio americano, afirmando:

– Este é o preço que eles têm que pagar por desafiar o poder americano. 

Como vice-presidente da comissão de “especialistas” que concebeu o novo conceito da OTAN, também foi convidado Jeroen van der Veer, que até 30 de junho deste ano era o diretor-geral da Royal Dutch Shell.

Outro fato, que levanta suspeitas sobre os objetivos nada humanitários da aliança militar, foi uma declaração de seu secretário-geral em 1º de outubro de 2010, ao se referir aos ataques de possíveis piratas no Chifre da África, indicando que a organização estaria agindo no interesse de empresas comerciais como a seguradora Lloyd’s, de Londres, e gigantes petrolíferas como a Shell e outras: 

– A OTAN, a União Europeia e muitos governos tiveram que mandar navios para tentar se defender dos ataques. Isto custou milhões às companhias de seguro – muitas das quais fazem parte do mercado da Lloyd’s. 

Será que alguém acredita nos bons propósitos de Anders Fogh Rasmussen e sua turma de novos e bem equipados piratas?

 

Sérvulo Siqueira