19 de janeiro de 2017

  

Barack Obama, este já vai tarde...

Amanhã é um dia em que a humanidade deve se encher de júbilo porque o comandante em chefe da maior potência bélica do mundo, criador das operações de aviões não tripulados (drones) que todas as terças-feiras assassinam cidadãos em todo o planeta, mesmo quando eles se encontram em casamentos e funerais acompanhados por pessoas presumidamente inocentes, deixará de exercer este poder.

Eleito sob a aura de mudança (change), Barack Hussein Obama prosseguiu de forma insistente a política belicista de seu antecessor George W. Bushinho e, na verdade, ainda a ampliou ao atacar novos governos seculares do Oriente Médio e do Norte da África, o que levou destruição e morte a estas regiões, causando um fluxo de refugiados que inundou os países da Europa.

Filho de dois antigos funcionários da famigerada Central Intelligence Agency (CIA) – sua mãe atuou na sangrenta derrubada do presidente Ahmed Sukarno, promotor da Conferência de Bandung e um dos criadores do Movimento dos Países Não Alinhados, em uma operação que causou a morte de 500 mil a um milhão de indonésios, segundo diversas organizações de direitos humanos, e seu pai participou do processo de deposição de Kwame Nkrumah, um dos grandes líderes do socialismo africano – Obama foi ainda mais além no ofício de desestabilização de países considerados como não subservientes e, com o objetivo de eliminar prisões como Guatanamo, que considerava muito custosas, criou o programa de assassinato de pessoas que imputava como terroristas por meio de drones, que provocou a perda de milhares de vidas, muitas delas inocentes, mortas por acidente e consideradas como danos colaterais.

Para mostrar o seu compromisso com o deep state, o estado paralelo entronizado no estamento bancário e Wall Street, na indústria bélica e nos meios de comunicação corporativos – o chamado 1% que hoje rege a economia norte-americana – concedeu socorro financeiro aos bancos, ampliou as guerras e as despesas com segurança e militares e, no ocaso de seu mandato de onde sai derrotado, criou um programa de ajuda aos meios de comunicação – as chamadas presstitutes – como recompensa pelo apoio à fracassada campanha de sua aliada, a notória (K)illary Clinton.

Neste sentido e visando ampliar a sua estratégia de guerra aérea, com o propósito de manter a hegemonia americana no mundo, despejou 26.172 bombas em sete países no mundo inteiro. Desse total, somente 24.287 foram jogadas na Síria e no Iraque, o que representou 79% do conjunto de 30.743 artefatos lançados nestas duas nações pela coalizão de países ocidentais composta pela Inglaterra, França, Dinamarca, Austrália, entre outros. As bombas restantes foram endereçadas ao Afeganistão (1337), Líbia (496), Iêmen (35), Somália (14) e Paquistão (3), não por acaso todos estes países islâmicos e a quem Obama prometeu no início de seu mandato, em histórico discurso no Cairo, respeito e paz.

Como presidente de seu país, Obama também pouco fez e quando realizou algo o fez mal. Seu programa de saúde, o Obamacare elevou muito os custos dos tratamentos médicos e pode ser considerado como uma das razões fundamentais para o colapso da candidatura democrata de (K)illary Clinton. Quando comparado ao programa de assistência médica de uma pequena nação vizinha como Cuba – citado em filme de seu partidário Michael Moore − soa como verdadeiramente ridículo, dados os recursos técnicológicos e econômicos da sociedade americana.

Quando, em decorrência das políticas adotadas, as desigualdades da sociedade americana se acentuaram e os protestos de rua se espalharam por numerosas cidades dos Estados Unidos (veja também o nosso artigo escrito em 5 de setembro de 2009) O’Bomber – como mais tarde veio a ser apelidado em razão de seu apego ao uso do bombardeio aéreo – acentuou o sistema repressivo que se abateu naturalmente sobre seus irmãos afro-americanos, enchendo as prisões com pessoas de cor negra e protagonizando cenas de extrema violência pública registradas por centenas de vídeos que expunham cidadãos idosos, mulheres e crianças recebendo choques elétricos e balas que, em muitos casos, levavam à morte.

No plano das políticas sociais, o YMI (Índice de Miséria dos Jovens, na sigla em inglês) estimado pela Young American Foundation considera que a miserabilidade dos jovens americanos cresceu 36% durante os oito anos do governo Barack Obama, saltando de 83,5 pontos em 2009 para 113,4 nos primeiros dias deste ano. O índice é calculado com base no emprego dos jovens, nos débitos com instrução escolar e no débito per capita da atual geração de jovens americanos, um grupo que ofereceu amplo apoio ao atual presidente nas campanhas eleitorais de 2008 e 2012. Após oito anos de administração Obama, a taxa de desemprego entre os mais novos é de 15%, enquanto o débito médio de cada estudante graduado em 2016 é da ordem de 36 mil dólares (aproximadamente R$ 100 mil). A taxa média de endividamento do conjunto dos jovens americanos está alcançando a marca de 62 mil dólares (cerca de R$ 200 mil), isto em um país onde não há mais tantos empregos e cuja economia enfrenta o prospecto de uma dívida nacional de 18 trilhões de dólares. Em decorrência da ausência de uma política para essa questão, pode-se dizer que Obama contribuiu diretamente para a derrota de sua candidata já que os jovens, um segmento fundamental da “Obama Coalition” deixou de apoiar a postulação de Hillary. Em seu comentário sobre os resultados dessa pesquisa, o presidente da Fundação dos Jovens Americanos, Ron Robinson, afirmou:

─ O presidente Obama proporcionou aos seus apoiadores um notável desserviço ao elevar o débito nacional a um nível muito alto e deixar de resolver adequadamente a crise de endividamento dos estudantes.

Robinson concluiu seu comentário com uma advertência sombria ao advertir que “os jovens estão se tornando cada vez mais conscientes da inabilidade da esquerda em oferecer soluções práticas para os problemas que eles enfrentam todos os dias”. Na atmosfera  ideologicamente difusa da vida política americana, os meios de comunicação corporativos têm a tendência de chamar os manifestantes anti-Trump de "esquerda liberal" (liberal left) quando, na verdade, eles não são liberais - atacam pessoas e destróem inúmeras propriedades públicas e privadas - e nem de esquerda, porque apoiam políticas genocidas de conquista como as que vêm sendo praticadas por Barack O'Bomber e (K)illary Clinton.

Estes mesmos veículos vêm insistindo em que Barack Hussein Obama deixa o cargo com um alto índice de aceitação, da mesma forma que também afirmaram que Hillary Clinton venceria a corrida presidencial com até alguma facilidade. Em vista do elevado nível de corrupção e de comprometimento destes veículos com o poder, é lícito duvidar da verdade dessa afirmação.

Da mesma forma estes órgãos, que disseminam o ódio como informação, vêm propalando a iminente construção de um muro na fronteira com o México sem mencionar que uma parte da edificação já foi construída pelo próprio Barack Obama que, por sinal, foi o presidente que mais deportou imigrantes ilegais ao atingir o número de quase 2 milhões e quinhentos mil expelidos, uma cifra superior ao que produziram todos os dirigentes norte-americanos reunidos.

Em vista dos inúmeros e relevantes crimes que cometeu, Barack Obama não poderá deixar a posição que exerceu de forma brutal e a serviço dos verdadeiros donos do poder durante os últimos oito anos, sem que a sua administração seja julgada de forma afetiva. O mais recente ato deste processo parece ser a divulgação pelo The Last Refuge da gravação de um encontro do atual secretário de estado norte-americano John Kerry com representantes dos países da coalizão liderada pelos Estados Unidos no Iraque e na Síria. No encontro, cuja gravação já foi reconhecida como autêntica por Kerry, fica evidente que os gringos estiveram à frente, desde o início, do processo para derrubada de Bashar Al-Assad e que, a pretexto de lutar contra a organização terrorista Daesh, bombardearam as mais importantes instalações de petróleo e gás da Síria assim como invadiram o país por terra, violando desta forma o Direito Internacional. A gravação também mostra que os americanos esperavam uma vitória do Daesh − também conhecido como Estado Islâmico, fundado pelo agente da CIA John Negroponte e um coronel do Exército dos Estados Unidos – e que armaram esse grupo para que pudesse executar os seus planos de dividir o Iraque, a Síria e a Arábia Saudita entre sunitas, xiitas e curdos com o objetivo de facilitar a sua dominação sobre o Oriente Médio.

A divulgação da gravação fornece informações valiosas para a hipótese bastante plausível de uma revolução colorida a ser desencadeada pelos democratas contra Donald Trump e configura que crimes de alta traição contra os Estados Unidos foram cometidos por Barack Obama e poderão ser usados pelo novo presidente na hipótese de um processo de impeachment. Coincidentemente, segundo as gravações, apenas o general Michael Flynn, que Trump escolheu como seu assessor de segurança, se opôs a este espúrio processo.

A posse do novo presidente norte-americano, no entanto, a despeito da incerteza que cerca o exercício do seu mandato, deve ser um dia de celebrações para toda a humanidade que não deseja a guerra mas a paz entre os diferentes povos, o que desgraçadamente não ocorreu durante o mandato de quem – pelo absurdo desejo dos membros de uma comissão – recebeu sem qualquer merecimento o prêmio Nobel da Paz.

Sérvulo Siqueira