10 de outubro de 2010
"Quem perdoa o inimigo, na mão lhe
cai!"
Em 2003, logo depois de tomar posse, Luís Inácio Lula da Silva concedeu
ao seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, o foro privilegiado para
questões judiciais. A decisão de Lula frustrou o desejo de uma grande
maioria dos seus eleitores, que desejavam um juízo político do
ex-presidente e a apuração dos inúmeros crimes de lesa-pátria de seu
governo, com a revelação de como se deu a doação da economia nacional ao
capital estrangeiro, o uso das chamadas "moedas podres", as negociatas
que envolveram as privatizações, a compra de votos para a obtenção de
sua reeleição, etc.
Pior ainda foi ver muitos empresários que haviam se locupletado com
tantos crimes se transformarem em comensais do nosso governo. Na época,
um conhecido jornalista citava o cangaceiro Lampião para lembrar ao novo
presidente que a história um dia poderia cobrar-lhe essa clamorosa
omissão. Conta-se que durante a crise do mensalão, FHC teria retribuído
a gentileza ao se opor a um processo de impeachment que seus partidários
queriam mover contra Lula. Diz-se que o "ínclito" ex-presidente teria
proposto que seu partido não se manifestasse desta forma, já que
acreditava que seria melhor ver Lula "sangrar"até o fim.
Como se sabe, Lula não sangrou; ao contrário, recuperou seu prestígio e
hoje pode se gabar de ser o presidente mais popular da história recente
do Brasil. No entanto, não tendo conseguido transferir toda a sua
popularidade para sua candidata Dilma Rousseff, enfrenta hoje uma das
mais encarniçadas e sujas lutas pelo poder de toda a sua vida. Talvez
esta luta não fosse tão feroz se ele tivesse adotado a prudência de
Lampião, de que quando se perdoa o inimigo ele costuma voltar com força
redobrada. A falta de escrúpulos do adversário de Dilma Rousseff, o uso
desavergonhado de todos os tipos de recursos, especialmente dos mais vis
e baixos, está mostrando agora que a sociedade brasileira poderá pagar
um alto preço pelo fato de que o governo de FHC não foi inteiramente
desmascarado em toda a sua imoralidade, como deveria ter sido feito.
Hoje, esses mesmos vendilhões que destruíram a economia nacional,
reduziram o PIB do País em até um terço, aniquilaram milhões de postos
de trabalho e milhares de empresas, retornam como guardiões da
moralidade, defensores dos mais humildes, precursores de um futuro
radioso e pregadores de uma nova ordem capitalista que vai redimir o
nosso País: palavras naturalmente vagas e falsas exaustivamente
repetidas pelos meios de comunicação, que se organizam como uma
verdadeira atividade criminosa fabricante de mentiras solertes.
Esperemos que o governo de Luís Inácio Lula da Silva não venha a ser
julgado pelos seus erros – certamente muitos, como todos os governos de
nossa história, ainda muito longe das verdadeiras aspirações populares –
mas pelos seus poucos e significativos acertos, incomparavelmente
maiores do que os do seu antecessor. Um deles foi lembrado há pouco por
Oscar Niemeyer, em sua declaração de voto:
– Eu voto em Dilma. Ela representa o governo de Lula que, pela primeira
vez, deixou o povo brasileiro sorrir um pouco.
Sérvulo Siqueira |