30 de setembro
de 2014
Eles
contra nós
Uma
nova campanha eleitoral chega ao fim e parece que mais uma vez as velhas
oligarquias brasileiras ‒ os decadentes barões da mídia, o capitalismo
financeiro aglutinado em torno dos imensamente lucrativos bancos e os
latifundiários do agronegócio ‒ aliadas aos especuladores internacionais
liderados pelo patrono das revoluções coloridas, George Soros, não irão
conseguir impor a vitória dos seus escolhidos para presidente no próximo
dia 5 de outubro.
Tendo ungido como seu favorito o pretendente herdeiro de um clã político
mineiro que não conseguiu galvanizar o apoio da opinião pública, a casta
de poderosos do país se aproveitou do misterioso acidente com o avião de
um dos candidatos para catapultar aquela que planejou impingir como a
nova estrela da constelação política do país e que melhor servia aos
seus propósitos porque poderia seduzir as classes populares que apoiavam
a atual presidente.
A
manipulação da opinião pública e a exploração emocional da tragédia que
se abateu sobre o candidato Eduardo Campos produziu nas primeiras
semanas da campanha um tal efeito psicológico que levou
a sua sucessora Marina Silva à liderança nas pesquisas, embora
muitos especialistas já tivessem desde então advertido que esta
tendência poderia não persistir.
Ao
contrário de Aécio Neves, com quem compartilha muitas posições
ideológicas neoliberais, Marina Silva vinha no entanto camuflando por
muito tempo suas verdadeiras opiniões mas a projeção que subitamente
adquiriu levou a que fosse obrigada a externar pontos de vista e
programas sobre a realidade brasileira e ‒ quando foi obrigada a fazê-lo
de forma clara ‒ incorreu em contradições, revelou sua enorme
fragilidade pessoal e insegurança psicológica e assumiu posturas
nitidamente reacionárias, contrárias à aura de defensora dos
marginalizados e oprimidos da floresta com que havia esculpido por muito
tempo o seu perfil.
Questionada por aqueles a quem havia prometido o exercício de uma "nova
política" e sendo forçada a responder com uma prática de coerência para
a defesa das suas convicções, Marina Silva sucumbiu ao peso das próprias
contradições e mentiras já que não vem conseguindo explicitar à
população como é que uma candidata que propõe uma mudança tão
significativa na sociedade pode ser financiada por grupos econômicos que
ao longo do tempo têm se alimentado parasitariamente da opressão imposta
às classes menos privilegiadas do nosso país.
Com
poucos argumentos convincentes para se defender, a postulante do Partido
Socialista Brasileiro (PSB) ‒ legenda a que somente aderiu quando
fracassou em seu projeto de criar um novo partido ‒ passou a atacar
sistematicamente a candidata à reeleição Dilma Rousseff, servindo-se
para isto dos mais ignóbeis e vis expedientes acusatórios, com o que se
igualou ao seu competidor Aécio Neves, também desejoso de ocupar um
lugar no 2º turno para a disputa com a atual presidente.
Com
os dois principais desafiantes da candidata à reeleição conduzindo-se
nesse patamar tão rasteiro, chegamos assim ao final de mais uma campanha
presidencial após termos presenciado uma disputa em que prevaleceram as
denúncias de corrupção sobre os programas de governo, as acusações
pessoais sobre o debate de pontos de vista e ‒ mais uma vez ‒ a
desrespeitosa ingerência dos meios de comunicação sobre a opinião
pública, ao tentar interferir abertamente sobre a escolha dos eleitores.
Talvez se possa dizer que os três principais candidatos não difiram
muito entre si em seu ideário capitalista, conservador e neoliberal mas
Aécio Neves, candidato do Partido da Social Democracia Brasileira
(PSDB), cujas propostas entreguistas e reacionárias que aviltam o Brasil
vêm sendo repetidamente rejeitadas nas últimas eleições, não está
conseguindo arrebanhar muitos seguidores segundo as últimas pesquisas.
Por
sua vez Marina Silva, a nova e fugaz estrela da política do país, agora
em tendência de queda livre, "não conseguiu firmar o nobre pacto" ‒ como
poetizava Mário Faustino ‒ provavelmente porque não foi capaz de
propô-lo e agora amarga as consequências de sua excessiva ambição e
falta de coerência.
Finalmente, Dilma Rousseff ‒ a gerentona que com sua visão limitada
governou quase que exclusivamente para o grande capital e distribuiu
pequenas benesses ao povão ‒ se coloca como uma alternativa ao futuro
sombrio proposto pelos seus adversários mas não necessariamente uma
alternativa verdadeiramente popular como demonstra de forma cabal o
pouco interesse, não se podendo falar sequer em qualquer entusiasmo, que
desperta no conjunto dos eleitores.
Como
não temos qualquer outra opção, como os candidatos mais comprometidos
com as políticas sociais fazem apenas o papel de figurantes em mais esta
ópera política, como os desafios à existência e continuidade do Brasil
enquanto povo e nação foram e continuam sendo gigantescos e como vivemos
numa época regressiva em que afloram as mais irracionais manifestações
de fundamentalismo ‒ desde os propriamente religiosos até os econômicos
do livre mercado, das bolsas de valores e do banco central independente
‒ os eleitores que têm alguma consciência do nosso país devem reconduzir
a atual presidente para mais quatro anos de
mandato.
Não,
por certo, sem a esperança de que a nossa president(a) se invista ‒
juntamente com a faixa presidencial ‒ de menos prepotência e arrogância
e mais sensibilidade social e política, talvez se lembrando dos tempos
de Belo Horizonte em que queria mudar o mundo.
Sérvulo Siqueira
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