22 de junho de 2009
A revolução em videoclipe
No início do filme La chinoise de Jean-Luc Godard, Jean Pierre Léaud – no papel de militante de uma célula maoísta – explica o que é o teatro contando a seguinte história:
Imediatamente, todos os
repórteres se precipitam em direção ao manifestante, que apalpa com as
mãos as bandagens que cobrem o seu rosto. Enquanto o jovem desenrola
lentamente os curativos, os repórteres – com seus flashes insistentes –
esperam registrar a imagem de uma face desfigurada e coberta por toda
sorte de ferimentos. Quando, finalmente, toda a bandagem é retirada,
descobrem que o rosto do jovem está intacto, em perfeito estado. Os jornalistas protestam: – O que é isso? Vocês estão
brincando? O personagem de Jean Pierre
Léaud comenta então que eles não entenderam do que se tratava: “aquilo
era apenas uma representação teatral”, diz. Em vários momentos, os
acontecimentos da semana passada em Teerã pareceram uma representação
encenada para a imprensa internacional que – ávida de escândalo,
violência e sensacionalismo – os transmitia por meio de satélites para
um público receptor, acomodado nas suas casas no Ocidente, que se
comprazia em sua imensa solidariedade para com os bravos lutadores da
liberdade que expunham cartazes para as câmeras da CNN, BBC, Fox News,
Reuters, CBS, The New York Times, Washington Post, etc.
com o slogan: Where is my vote? Ao mesmo tempo e com incrível
velocidade, jovens manifestantes transmitiam em seus celulares imagens
distorcidas e truncadas, apelos, boatos e informações alarmistas a sites
com tecnologia em tempo real como Twitter, YouTube e Facebook que
criavam um clima de pânico e produziam um verdadeiro sentimento de
comoção. Essas mensagens – escritas
sempre no idioma inglês – descreviam ameaças de morte, invasões
policiais em casas de famílias e eram enviadas por pessoas que não
poderiam ser identificadas ou localizadas. Boatos de assassinatos em
massa também se espalhavam por todos os cantos e certamente devem ter
sensibilizado milhões de lares norte-americanos que por um momento se
esqueceram de que o Irã havia sido colocado pelo governo de George W.
Bushinho na lista dos membros do Eixo do Mal e que Hillary
Clinton, secretária de Estado dos EUA, já havia acenado com a
possibilidade de obliterar completamente o país. O episódio representa um dos
mais avançados processos de elaboração de técnica de guerra psicológica,
tática de desestabilização e dominação de povos e governos adversários
dos Estados Unidos, exercida com maestria por agências de espionagem e
contraespionagem americana – Agência Central de Inteligência (CIA),
Agência Nacional de Segurança (NSA), Agência de Inteligência da Defesa
(DIA) e outras menos conhecidas – além de organizações não
governamentais internacionais, o Departamento de Estado, a Freedom
House, o Centro para a Aplicação da Ação Não Violenta (CANVAS,
antiga OTPOR), o Pentágono, o National Endowment for Democracy
(NED), o Instituto Albert Einstein e o Escritório para Assuntos
Iranianos, criado após a eleição de Mahmoud Ahmadinejad, em 2005, com um
orçamento inicial de US$ 85 milhões aprovado pelo Congresso americano.
Grande parte desses recursos é destinada ao financiamento de grupos
dentro e fora do país – sindicatos, pseudojornalistas e terroristas –
que trabalham para a desestabilização do regime em atentados e na
disseminação de informações falsas e sensacionalistas. A longa história da interferência de britânicos e norte-americanos no Irã remonta ao século passado quando os ingleses obtiveram direitos exclusivos ao petróleo iraniano por um período de 60 anos. Este fato levou à Revolução Iraniana de 1905 que reduziu os poderes do Xá, instalou um parlamento e deflagrou o processo de uma tradição democrática no país que levou à ascensão de Mohammad Mossadegh, um brilhante líder nacionalista que estatizou o petróleo mas foi abalroado do poder em 1953 por um golpe financiado pela CIA e coordenado por Kermit Roosevelt, neto de Theodore Roosevelt, presidente americano que esteve em visita ao Brasil em 1913 caçando animais.
Nos dias de hoje, os esforços
coordenados dos Estados Unidos e de Israel querem fazer crer – de forma
paradoxal – que a revolta fabricada de 2009 contém muitos pontos de
semelhança com os gigantescos acontecimentos que levaram à derrubada do
governo fantoche de Reza Pahlevi e que as manifestações atuais, assim
como o movimento de 1979, representam o consenso de uma ampla vontade
popular. Uma observação mais atenta dos
acontecimentos pode, no entanto, levar a outras constatações. O
jornalista investigativo Seymour Hersh da revista New Yorker
relata em matéria de 29 de junho de 2008 que – depois de abandonar a
ideia de um ataque nuclear ao Irã – o então presidente George W.
Bushinho autorizou em 27 de maio de 2007 o uso de recursos no valor
de US$ 400 milhões para operações da CIA neste país do Oriente Médio com
o objetivo desestabilizar sua liderança religiosa, apoiar minorias
étnicas e organizações dissidentes, além de obter informações sobre o
seu programa nuclear. Segundo Hersh, em-bora tenha havido resistências
entre a maioria democrata, que alegou falta de informações específicas
sobre a natureza das operações, a proposta foi aprovada. Segundo o jornalista, o dinheiro
para as operações entra no Irã a partir do oeste do Afeganistão e é
canalizado principalmente para a organização Jundallah, também conhecida
como Movimento Iraniano de Resistência do Povo, uma organização sunita
que possui laços com a Al-Qaeda e está ligada ao tráfico de drogas.
Outro grupo que também recebe dinheiro do governo americano – segundo o
jornalista – são os Mujahedeen E-Khalk (MEK), uma organização que já
esteve na lista negra do Departamento de Estado do governo dos Estados
Unidos como terrorista mas que recentemente voltou a receber armas e
inteligência do Departamento de Defesa americano. Entre aqueles que estão sendo
cooptados por Washington para operações secretas no Irã também se
encontra o Partido da Vida Livre do Curdistão (PJAK), segundo o
princípio de que as minorias étnicas devem desempenhar um papel decisivo
na desestabilização do regime dos aiatolás. Como se sabe, os curdos
estão espraiados pelos territórios da Turquia, Iraque, Irã e Síria e
anseiam por constituir um Estado-nação próprio. De acordo com o relato do
jornalista, a operação está em plena execução e mesmo que o novo
presidente americano queira abortá-la seria necessário pelo menos um ano
até que isto possa ocorrer. Um membro da comissão de liberação de verbas
do Congresso disse que, uma vez concedidos os recursos, o processo segue
normalmente: – Nós controlamos o dinheiro
e eles não podem fazer nada sem dinheiro. O dinheiro é o que conta,
afirmou a Seymour Hersh. De fato, segundo outro
jornalista, o francês Thierry Meyssan, o Jundallah assumiu a
responsabilidade por um ataque a uma mesquita xiita perpetrado no dia 28
de maio de 2009, que causou 28 mortes e uma centena de feridos graves,
executado portanto a apenas quinze dias das eleições presidenciais que
tanto furor estão causando em alguns grupos oposicionistas do Irã e na
imprensa ocidental. De acordo com Meyssan do
Réseau Voltaire, a organização dispõe para suas atividades de uma
televisão por satélite baseada nos Estados Unidos e de uma rádio FM,
sediada na Suécia. O diretor da rádio informou no dia 31 de maio de 2009
em comunicado pela emissora que o Jundallah e os Mujahideen do Povo, uma
outra organização iraniana no exílio, haviam assinado um acordo por meio
do qual os Mujahideen forneceriam as informações necessárias aos
atentados e em contrapartida o Jundallah daria apoio logístico para a
circulação dos membros da associação no Irã. A televisão Rang-A-Rang
do Jundallah está localizada no estado de Virgínia, não muito distante
do Pentágono, e dirige a sua programação à comunidade iraniana exilada
nos Estados Unidos, apoiando abertamente a volta da monarquia. Thierry
Meyssan conta que a emissora ficou célebre quando anunciou em 2007 a
“libertação” iminente do Irã por tropas militares dos Estados Unidos. Em linha com a estratégia do
império romano de dividir para dominar e continuando a tradição
britânica da qual são herdeiros, os Estados Unidos procuram agora
explorar politicamente um conflito de posições no seio da própria
República Islâmica que coloca, de um lado, o líder supremo Ali Khamenei
e o atual presidente Mahmoud Ahmadinejad e, de outro, o aitolá Hussein
Ali Montazeri, tido como sucessor natural do Imã Khomeini porém
preterido em favor de Khamenei, e que é aliado do ex-presidente Akbar
Hashemi Rafasanjani, derrotado por Ahmadinejad nas eleições de 2005, mas
ainda muito poderoso no Irã onde é conhecido como o tubarão. Nos jogos de guerra, que
costumam ser usados com muita frequência pelo Departamento de Defesa nas
simulações de operações militares, um ataque preventivo às instalações
nucleares do Irã – proposto com fervor por neoconservadores americanos e
grupos nazi-sionistas de Israel – levaria a uma escalada do conflito,
com consequências imprevisíveis para a humanidade. Considerando todas as
implicações que o episódio contém: as relações Ocidente-Oriente, a
emergência das doutrinas fundamentalistas em todas as religiões, a
perspectiva de uma grande crise econômica, a decadência inexorável do
imperialismo americano e a crescente dependência do Ocidente de recursos
energéticos sob controle de novos países emergentes, além das posturas
belicistas que têm sido empregadas pelas potências neocoloniais como
instrumento de poder, o episódio que se desenrola neste momento no
Oriente Médio carrega o espectro de muito mais tons que uma revolução
colorida de opereta pode apresentar. 25 de novembro de 2009
O monumental esforço da direita
brasileira não conseguiu produzir mais do que um mísero ratinho apesar
de toda a sua tentativa para demonizar o presidente do Irã, Mahmoud
Ahmadinejad, por ocasião de sua recente visita ao Brasil. No momento em que a Organização
das Nações Unidas (ONU) discute o relatório Goldstone – que considera
que o exército de Israel atacou de forma deliberada e com grande
potencial bélico a indefesa população civil de Gaza, o maior campo de
concentração a céu aberto do planeta – ficou claro que a enorme
mobilização publicitária tinha por objetivo criar uma grande cortina de
fumaça para encobrir os crimes do Estado judeu e fabricar apenas mais um
pretexto para atacar o governo Lula, cuja popularidade continua em
ascensão. Corroborada pelo pouco interesse
e conhecimento que a população brasileira tem de política externa, a
gigantesca mobilização dos meios de comunicação – que mais uma vez se
afirmam como um partido único, como dizia o ex-governador Leonel Brizola
– não foi além de umas poucas manifestações restritas a não mais do que
uma centena de pessoas em bairros de classe média alta. Nas manchetes dos grandes
jornais, trombeteadas com grande destaque apesar da pequena importância
do fato, chamou atenção a participação de algumas organizações ligadas a
grupos minoritários de gays, lésbicas e cultos religiosos
afro-brasileiros. A intensa mobilização dos manifestantes, que tendia a
camuflar o pequeno número de participantes, revelava imagens bizarras
como a de umbandistas com turbantes carregando bandeiras do Estado de
Israel, gays gritando slogans pela liberdade do homossexualismo e outras
representações de caráter circense, num espetáculo que soava falso e
fabricado. O acontecimento não poderá
deixar de evocar o ocorrido há pouco tempo no próprio Irã, quando o
candidato da oposição – que todas as pesquisas confiáveis de opinião
pública já consideravam como virtualmente derrotado – proclamou-se
vencedor do pleito três horas antes do encerramento das votações e
desencadeou de forma calculada uma série de manifestações contra o
governo islâmico que – depois se provou – haviam sido cuidadosamente
planejadas em Washington em associação com grupos terroristas no país.
Essa estratégia não contou com o apoio explícito do governo Obama e
parece refletir a crescente influência do lobby israelense no
governo americano. As táticas e os métodos
empregados em sua organização apresentam vários pontos em comum com os
empregados nas conhecidas revoluções coloridas, expediente de que
se serviu o governo dos Estados Unidos para produzir de forma artificial
um conjunto de reivindicações visando expressar de forma mais dramática
as demandas da população. Nesses movimentos, questões como a liberdade
de opinião e de opção sexual costumam se misturar a bandeiras como a da
privatização dos bens públicos, por exemplo, – que são apresentadas como
condição para a verdadeira liberdade da atividade econômica, o que
interessa mais diretamente ao capitalismo americano – e criam um
complexo variado de temas que parecem ter uma característica libertária
mas cujo verdadeiro sentido só se torna claro depois da vitória do
movimento. Esse conceito começou a ser
elaborado a partir dos anos 90 mas pode-se dizer que suas raízes já
estão plantadas nas décadas de 70 e 80 do século passado, no momento em
que ocorreu uma diminuição dos golpes de Estado fomentados pela CIA. Sua
corporificação se deu com a criação do NED, em 1982, e do United
States Institute for Peace (USIP), em 1984, duas associações sem
fins lucrativos financiadas pelo Congresso e o governo dos Estados
Unidos por intermédio da Agência dos Estados Unidos para o
Desenvolvimento Internacional (USAID). A principal atividade do NED é
corromper os sindicatos, os patrões, a esquerda e a direita de um país
com o objetivo de obter apoio para a política americana. Segundo observadores, a primeira
tentativa de fabricação de uma revolução colorida foi em 1989, quando
jovens partidários de Zhao Zhiang tomaram a Praça Tiananmen. A imprensa
ocidental os apresentou como apolíticos defensores da liberdade no país
mas depois se provou que haviam sido treinados pelo governo dos Estados
Unidos. O episódio marcou na verdade a tentativa de um golpe de Estado
que fracassou. A primeira revolta colorida
bem-sucedida ocorreu em 1990, na Bulgária. Sucederam-lhe muitas outras,
entre elas a “revolução das rosas”, na Geórgia, em 2003; a “revolução
das tulipas” em 2005, no Quirguistão; a “revolução do cedro” em 2005, no
Líbano; sem esquecer a “revolução dos tratores”, na Sérvia, ocorrida
após a brutal agressão comandada pelas forças da Organização do Tratado
do Atlântico Norte (OTAN) e dos Estados Unidos. A estratégia desses
acontecimentos fabricados consiste em convencer o Estado a não utilizar
a violência, o que abre caminho para a tomada do poder, que acaba sempre
sendo violenta. Outra tática reside em colocar agitadores armados em
ambos os lados do conflito, como ocorreu na tentativa de derrubada de
Hugo Chávez, em 2002. Na época, o massacre de 19 pessoas atribuído aos
partidários de Chávez – que mais tarde se comprovou foi obra de
franco-atiradores da oposição – combinado ao clima de caos criado por
emissoras de televisão corruptas e à ação de agentes americanos
infiltrados levou à retirada do presidente do poder por 72 horas. Um dos principais métodos
utilizados para desestabilizar um país consiste em denunciar sem razão
fraudes nas eleições. Em 2006, a desestabilização do Quênia transformou
um pseudoparente de Obama em primeiro-ministro do país mesmo depois de
ter perdido as eleições para presidente. Um novo método, que tem sido
usado recentemente, é o de fabricar revoluções coloridas mesmo sabendo
que elas não serão bem-sucedidas mas que possibilitarão a manipulação de
setores da opinião pública e a desestabilização financeira do país. Na malfadada “revolução verde”
do Irã um dado novo foi a emergência dos sites de convivência social
Twitter e Facebook. Considera-se que o seu fracasso se deve ao fato de
que o candidato escolhido, Mir Mousavi, comprometido no passado com
posições muito duras e envolvido nos massacres de comunistas durante a
presidência de Rafsanjani, não conseguiu catalizar o necessário apoio
popular. Como poderá ser uma revolução
colorida no Brasil? Sabe-se hoje com certeza que esses processos não têm
nada de revolucionários: eles não passam na verdade de uma mudança de
governo com a aparência de revolução. Pode-se afirmar que –
politicamente – esses movimentos são uma nova modalidade de golpe de
Estado, em que uma elite de poder é substituída por outra mais dócil aos
interesses dos americanos do norte. O regime que emergiu da
revolução das tulipas em 2005, no Quirguistão, liderado por Kurmanbek
Bakiyev, vendeu todos os recursos do país aos americanos e instalou
bases na cidade de Manas. Por sua vez, o governo fantoche de Mikhail
Saakashvili, da Geórgia, invadiu a região predominantemente russa da
Ossétia do Sul e matou 1.600 pessoas, sofrendo em seguida uma grande
derrota militar. Uma vez que o único propósito
desses movimentos é tomar o poder, sua principal estratégia consiste em
identificar no país a ser desestabilizado o ponto onde se localiza o
descontentamento popular. Seu objetivo então é enfatizar o mantra de que
a solução do problema levará a uma transformação completa da sociedade. Num país como o Brasil, com uma
das piores distribuições de renda do planeta, problemas no campo – onde
quase a metade das terras são de latifúndios improdutivos – e nas
cidades – com índices alarmantes de violência – pode-se afirmar com
convicção que não faltarão temas candentes para desencadear não apenas
uma nova revolução colorida de opereta mas uma verdadeira revolução
social, com a mudança completa das estruturas de poder que sustentam um
dos sistemas econômicos mais injustos da terra. Este não parece ser o
objetivo dos poucos manifestantes que se reuniram esta semana em algumas
cidades do país. Um dos líderes do movimento,
Julio Cardia, presidente do Estruturação, grupo LGBT (lésbicas, gays,
bissexuais, travestis, transe-xuais e transgêneros) de Brasília, que
participou de protestos contra Ahmadinejad, revelou algumas das suas
coordenadas ao afirmar que a manifestação é a favor das minorias do Irã
mas também contra o governo brasileiro por aceitar a presença do
presidente iraniano no país. Ele considera que “a partir do momento que
aceita essa visita, o governo está coadunando com a atividade dentro do
Irã, e a gente é contra qualquer tipo de violação dos direitos humanos”. A sabedoria popular considera
que roupa suja se lava em casa e, assim, Julio Cardia poderia aproveitar
também a oportunidade para levar seu propósito a sério e, junto com seus
companheiros do movimento judeu com os quais “fizeram um mix”, segundo
afirmou, protestar de forma veemente contra as brutais violações dos
direitos humanos dos palestinos, submetidos a um cerco pelas Forças de
Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) e impedidos de ter acesso
pleno a água, luz, comida, transporte, serviços médicos, etc. além de
serem impedidos de deixar o que é considerado o maior campo de
concentração a céu aberto do planeta, onde mais de um milhão de pessoas
vivem em uma faixa de terra de aproximadamente 360 km². Há pouco tempo,
estiveram em visita ao país o ministro das Relações Exteriores de
Israel, um notório genocida de extrema direita que já propôs resolver o
problema palestino eliminando todos os palestinos, e o presidente de
Israel, Shimon Peres, que apoiou o ataque de seu país aos habitantes de
Gaza em janeiro deste ano, causando a morte de mais de 1.400 habitantes
da região. No entanto, não tivemos notícia de que Cardia tivesse
organizado qualquer manifestação contra a presença dessas figuras,
apesar da grande exposição pública de Peres, que chegou inclusive a se
encontrar com o jogador Ronaldo, do Corinthians. A despeito das suas
autoproclamadas convicções democráticas, pode-se dizer que Cardia na
verdade coadunou – para usar as palavras da matéria – com claras
violações de direitos humanos. Por outro lado, também demonstra em seu
comentário dificuldade de conviver com as diferenças já que sequer
admite que chefes de Estado de nações que mantêm boas relações
institucionais e comerciais possam se encontrar. Ao mesmo tempo, essas posições
revelam outras intenções que nem sempre são claramente expostas. Uma
delas, por certo, está na discussão que agora se realiza nas Nações
Unidas acerca do Relatório Goldstone, produzido por um juiz da África do
Sul de origem judaica, que considera que o Exército de Israel é culpado
de crimes de guerra cometidos durante o recente bombardeio de Gaza, por
haver de forma deliberada utilizado seu poderio bélico – inclusive
armamento proibido por convenções internacionais de guerra – contra a
população civil do lugar. A discussão do relatório –
evitada a todo o custo pelos Estados Unidos e Israel, mas que contou com
o apoio até de aliados como a Inglaterra e a França – coincide com a
divulgação de um outro relatório e de uma pesquisa, que também poderiam
fornecer alguns temas para a reflexão de Cardia. A organização israelense de
direitos humanos Bethselem, para comemorar os seus vinte anos de
existência, acaba de divulgar um informe sobre os últimos anos do
conflito entre Israel e os palestinos. Segundo a ONG, Israel matou 7.400
palestinos desde 1989 ao mesmo tempo em que destruiu dez mil casas
pertencentes a esse povo. Do total de mortos, 1.500 são crianças. O
número de colonos judeus que se estabeleceram em território antes
ocupado pelos palestinos aumentou de 60 mil para 420 mil pessoas, sendo
que 300 mil apenas na região da Cisjordânia, controlada pelo Fatah. Os
restantes 120 mil se instalaram em Jerusalém Oriental, outrora ocupada
pelos palestinos. Por sua vez, os palestinos mataram 1.483 israelenses,
dos quais 995 eram civis e 488 militares. Curiosamente, as colônias
judaicas não estão se expan-dindo no território de Gaza e isto
certamente se deve à ação enérgica do Hamas, que controla politicamente
e realiza ações militares na área. As declarações do presidente do
Irã são polêmicas embora estudiosos do idioma persa já tenham
demonstrado de forma cabal que ele jamais disse que Israel deveria ser
varrido do mapa. A não divulgação desta informação diz bem da absoluta
falta de escrúpulos e de ética que caracteriza o comportamento dos meios
de comunicação de hoje, que se organizam – ao arrepio da lei – em
verdadeiras máfias criminosas, como demonstra a existência da famigerada
Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, na sigla em espanhol). A questão do holocausto tem sido
permanentemente camuflada e neste ponto parecem concordar com
Ahmadinejad vários historiadores judeus. Um deles, Norman Finkelstein,
foi recentemente proibido pelo governo de Israel de fazer uma
conferência na Universidade de Jerusalém, o que mostra que no país
também não há um verdadeiro regime democrático. Por outro lado, os
judeus que vivem no Irã, apesar de insistentes propostas que envolveram
inclusive uma boa soma de dinheiro, não aceitaram ir viver em Israel por
considerar que são bem tratados no país islâmico. As verdadeiras razões por trás
da ignóbil campanha contra o Irã são o apoio claro que o país dá aos
partidos políticos Hezbollah e Hamas, que se opõem à política
expansionista do Estado judeu. Argumentos como os apresentados pelos
Estados Unidos contra o programa nuclear do Irã soam cada vez mais
hipócritas, principalmente quando se considera que partem da mais
belicista potência que já existiu – hoje com mais de 700 bases militares
espalhadas por todo o mundo – e pretendem na verdade ocultar o fato de
que Israel possui 500 ogivas nucleares, conforme já afirmou várias vezes
o ex-presidente americano Jimmy Carter. Estes são os fatos, o resto são
as diferentes versões para atender a interesses escusos ou – como se
dizia no passado – meras intrigas da oposição. Voltando à questão anterior: como se apresentará uma revolução colorida no Brasil? Pode se pensar que a sua cor será o arco-íris, o que parece muito apropriado uma vez que – como dizia a música – “o arco-íris já mudou de cor...”.
Sérvulo Siqueira |