21 de outubro de
2010
O político como comediante - eleições, mentiras e imprensa golpista
No
início do filme La chinoise de
Jean-Luc Godard, o ator Jean Pierre Léaud – no papel de um militante de
uma célula maoísta – explica o que é o teatro contando a seguinte
história:
- Em
Moscou, depois de fazerem uma manifestação diante do túmulo de Stalin,
jovens militantes chineses são agredidos pela polícia soviética. No dia
seguinte, na sede da embaixada chinesa e diante de toda imprensa
ocidental (especialmente repórteres de
Life,
France Soir, etc.), aparece uma pessoa com o rosto completamente
enfaixado e que fala com emoção:
- Vejam, vejam o que me aconteceu, vejam o que esses revisionistas me
fizeram!
Imediatamente, todos os repórteres se precipitam em direção ao
manifestante, que apalpa com as mãos as bandagens que cobrem o seu
rosto. Enquanto o manifestante desenrola lentamente os curativos, os
repórteres – com seus flashes insistentes – esperam registrar a imagem
de uma face desfigurada e coberta por toda sorte de ferimentos. Quando,
finalmente, toda a bandagem é retirada, descobrem que o rosto do jovem
está intacto, em perfeito estado.
Os
jornalistas protestam:
– O que é isso? Vocês estão brincando?
O
personagem de Jean Pierre Léaud comenta então que eles não entenderam do
que se tratava: “aquilo era apenas
uma representação teatral”, diz.
A
história se repete não apenas como tragédia, mas também como farsa. Não
se surpreenda se a partir de amanhã os meios de comunicação desse País
passarem a exibir imagens do candidato José Serra – no papel de Jean
Pierre Léaud – se apresentando como uma pobre vítima da "violência
nazifascista", perpetrada pela militância do PT, embora nem um simples
hematoma tenha sido causado em sua reluzente careca de Nosferatu.
Não
é por acaso que, em francês, a palavra
comédien designa igualmente o
dramático e o cômico.
Sérvulo Siqueira |