17 de outubro de 2010

A vitória do obscurantismo

 O primeiro turno das eleições presidenciais brasileiras de 2010 estabeleceu de maneira inesperada a vitória do obscurantismo no País. Na falta de um projeto consistente que seduzisse o eleitorado, o candidato de oposição recorreu a denúncias de violação de sigilo, práticas de corrupção e, por fim, à posições religiosas polêmicas como uma suposta defesa do aborto advogada pela candidata do governo, ampla favorita nas pesquisas.

Subitamente, o País se viu mergulhado num debate com características extremamente emocionais, em que um tema que deveria ser tratado como assunto de saúde pública se transformou em divisor de águas entre incrédulos e fiéis. Deslocado do terreno da discussão de políticas públicas para o campo religioso – na verdade, um disfarce para posturas ideológicas extremamente intolerantes – o debate passou a colocar tanto os candidatos quanto os eleitores como reféns dos padres, pastores e dos guardiões da fé.

A história registra que – quando isso acontece – a humanidade fica à mercê de ações que beiram o mais acentuado fanatismo religioso. Disso dão exemplo episódios como as diversas cruzadas da Idade Média, as Inquisições da Igreja Católica e – mais recentemente – os fundamentalismos cristão, muçulmano e judeu, envolvidos no momento em sangrentas guerras no Oriente Médio e na Ásia Central.

Dadas as características desses conflitos, tudo leva a crer que a campanha do candidato José "O Estripador" Serra, com sua pregação voltada para a sensibilização do eleitorado evangélico e católico tradicional não foi concebida no Brasil mas teve origem numa ampla estratégia do Departamento de Estado norte-americano, cuja estratégia consiste em fabricar revoluções coloridas destinadas a derrubar governos discordantes por meio de processos eleitorais ou movimentos populares de insurreição.  

No caso brasileiro, assim como na mais recente revolução verde do Irã, esse objetivo esbarra na profunda rejeição do eleitorado brasileiro ao candidato José "Nosferatu" Serra, uma figura que carrega ao mesmo tempo vários estigmas:

1. É herdeiro político do nefando Fernando Henrique Cardoso, um político que – após ter presidido o País por 8 anos - está hoje mergulhado no mais completo ostracismo;

2. Traz também o seu próprio passado de privatista e vendilhão da Pátria; sendo apontado como responsável direto pela doação de algumas das maiores empresas do País durante o período em que serviu, como Ministro do Planejamento e da Saúde, ao governo anterior de FHC;

3. Vem assumindo crescentes posições totalitárias a ponto de ter ordenado, na condição de governador do Estado de São Paulo, a invasão do campus da maior universidade do País;

4. Em seu desespero para reverter uma posição desfavorável diante da candidata Dilma Rousseff, foi obrigado a apelar para polêmicas questões religiosas que contrariam claramente suas posturas anteriores favoráveis a posições "politicamente corretas", mas antagônicas às ortodoxias religiosas;

5. Após ter se engajado em sucessivas denúncias de corrupção do atual governo, foi finalmente envolvido – pessoalmente, assim como seu recente governo do Estado de São Paulo – em episódios de nítida malversação de fundos, de magnitude igual ou superior àqueles que acabou de denunciar.

6. Finalmente, a despeito de ter tentado vender a imagem de candidato amável e sensível aos interesses do eleitorado mais pobre, o modo como o fez – arrogante, prepotente, desrespeitoso e caluniador – somente acentuou o sentimento de rejeição que o cidadão brasileiro ainda mantém em relação à sua pessoa.

Acuado, sem uma verdadeira proposta de mudança, recorrendo a artifícios pouco éticos, sem responder aos questionamentos que se tornam cada vez mais legítimos, o candidato José Serra parece que começa a resvalar para atitudes de puro desespero, como revela a sua conduta no dia de ontem, 16 de outubro, quando – acompanhado do candidato derrotado ao Senado pelo Ceará, Tasso Jereissati, uma figura hoje praticamente proscrita da vida pública pelo voto popular, invadiu uma missa em Canindé, no Ceará, distribuindo panfletos com acusações mentirosas contra sua adversária.

Embora o padre celebrante da missa argumentasse que os panfletos não representavam opinião da igreja e pedisse a retirada dos manifestantes, Zé "O Estripador" Serra e sua horda continuaram a causar tumulto em plena missa. Torna-se cada vez mais claro que em sua ânsia pelo poder a qualquer preço, o candidato não conhece mais os limites da ética e do escrúpulo e caminha celeremente em direção à blasfêmia e à apostasia. Terá José Serra equilíbrio, discernimento, clarividência e até humanidade para administrar um país com tantas contradições como o Brasil?

Vamos esperar que até o dia 31 de outubro tenhamos condições de encontrar a resposta certa.

 

Sérvulo Siqueira