15 de junho de
2012
Rio+20: a nova farsa “humanitária” da ONU
As
trombetas da imprensa corporativa mundial – cujo repertório é bastante
repetitivo – anunciam com alarde a conferência do meio ambiente da ONU
Rio+20, que ocorrerá entre os dias 20 e 23 deste mês na cidade do Rio de
Janeiro.
Como
o nome indica, o evento celebra 20 anos da Rio 92, uma outra conferência
sobre o meio ambiente realizada quando a Organização das Nações Unidas
ainda não tinha sido completamente desmoralizada pelos Estados Unidos,
ao não ser capaz de impedir a invasão da Iugoslávia e do Iraque e, ainda
assim, sacramentar o esquartejamento destes países enviando os seus hoje
famigerados capacetes azuis.
Esperava-se então que os países que mais poluem a natureza
pudessem honrar os acordos que assinaram mas – passados 20 anos –
verifica-se que poucos compromissos foram cumpridos.
A
atual conferência acontece num momento em que o capitalismo industrial
hoje capitaneado pelos Estados Unidos, depois de ter envenenado o ar com
a emissão de gases tóxicos por mais de 300 anos, assoreado os rios com o
despejo de dejetos industriais, destruído a terra com o acúmulo de
pesticidas e transgênicos, e colocado a fauna e a flora marinhas
perigosamente em risco de sobrevivência, pretende se apoderar dos
recursos restantes do planeta e cobrar um alto preço pelo seu uso.
Vivendo a pior crise do neoliberalismo econômico, os Estados Unidos, a
União Europeia, o Japão e Israel vêm se empenhando recentemente nas
guerras coloniais de conquista, como atestam entre outros as ocupações
do Iraque, do Afeganistão, da Somália, a divisão do Sudão, o golpe na
Costa do Marfim, a recente derrubada e o assassinato de Muammar Khadafi,
e o brutal cerco a que está sendo submetida a Síria pela OTAN e por
terroristas islâmicos financiados pelos Estados Unidos e a Arábia
Saudita.
Para
realizar os seus objetivos de conquista, estes arruinados países dotados
de poderosas armas de destruição em massa se valem hoje do expediente
das “ações humanitárias”, ou do direito de proteger que vem causando
dezenas de milhares de mortes – como acaba de ocorrer na Líbia – e levou
à completa desintegração do País.
Consciente de que nem sempre a melhor tática é a da força, a Organização
das Nações Unidas pretende exibir agora na Rio+20 a sua face mais
amigável e certamente deseja resgatar a sua desacreditada imagem.
No
entanto, todo o processo de preparação, os discursos inócuos e
demagógicos e os acenos de boa vontade das instituições patrocinadoras
do evento, das organizações não-governamentais e das empresas privadas
envolvidas – entre as quais se encontra a agência de notícias Reuters,
órgão de propaganda da máquina de guerra do Pentágono – não
conseguem esconder as verdadeiras intenções subjacentes: colocar um alto
preço nas riquezas naturais dos países e – sob o pretexto de oferecer
ajuda e tecnologia – ganhar muito dinheiro com a sua exploração e
predação.
Do
ponto de vista da riqueza dos recursos naturais, não devemos alimentar
nenhuma dúvida, o principal alvo de exploração dos abutres neoliberais
somos nós: a América do Sul e, principalmente, o Brasil, onde se
concentram 40% das terras cultiváveis do planeta, os maiores rios e
grande parte da biodiversidade da Terra. Países como o Brasil, a
Venezuela, a Colômbia, o Equador, o Peru e também a Argentina
representam um imenso celeiro para a possível exploração e destruição de
suas florestas, complexos aquíferos, reservas minerais e petróleo, além
dos mais diversificados sistemas biológicos que habitam as suas terras.
Como
os antigos piratas do passado em seus reluzentes galeões, os novos
bucaneros de hoje; Chefes de Estado, o Banco Mundial, a USAID e os
capitalistas travestidos em falsos ecologistas chegam em modernos
aviões, mas suas intenções verdadeiramente não mudaram. Da mesma forma
que antes, o que querem é se apoderar das nossas riquezas naturais
e usá-las para seu bem estar e suas guerras de destruição.
No
entanto, os tempos não são mais os mesmos. Enquanto a colonialista
Europa vive hoje uma terrível crise que ameaça reduzir drasticamente o
padrão de vida de seus habitantes, muitos países da América Latina –
depois de ter passado pelos “ajustes“ do FMI e experimentado a mais dura
recessão – vivem hoje como observou de modo muito apropriado o
presidente do Equador, Rafael Correa, não uma época de mudança mas uma
mudança de época em que, pela primeira vez na história da região as
políticas de governo estão mais orientadas para os interesses da
população.
Por
certo, os corsários de hoje trazem um novo arsenal de disfarces e
mentiras. Suas conversas de fala macia vão oferecer apoio para a
preservação das nossas riquezas mas como acreditar em suas boas
intenções quando não foram capazes de conservar os seus próprios bens
naturais? Desde o derramamento de óleo no Golfo do México pela empresa
British Petroleum e a possível exploração de gás no Alasca, como é que
se poderá acreditar no real comprometimento de ingleses e americanos com
a sobrevivência da vida no planeta?
Por
outro lado, quais são as considerações ecológicas que impedem que
o governo americano descarregue centenas de toneladas de bombas com
material radioativo em indefesas populações civis do Afeganistão, Líbia,
Somália, Paquistão,etc.? A recente revelação de uma inteira geração de
crianças deformadas nascidas em Falluja, cidade do Iraque destruída
pelos Estados Unidos, levanta uma questão que deveria ser respondida
pelos ecologistas da Rio+20: por acaso a conservação da vida na Terra
não pressupõe a sobrevivência do ser humano? Suspeito que a verdadeira
intenção dos ianques já foi contada pelo Dr. Strangelove/Dr. Fantástico,
inesquecível personagem do filme de Stanley Kubrick: destruir a vida no
planeta e construir abrigos para alguns poucos aliados, que produzirão
uma nova raça superior.
Já
se disse que o inferno está povoado de boas intenções. Na Rio+20 não se
trata sequer disto. Esta nova conferência da ONU, como várias outras
anteriores, inclusive a realizada em Kyoto que emitiu um protocolo de
intenções que jamais foi assinado pelos Estados Unidos, se constitui
apenas em uma cortina de fumaça para justificar a dominação das
potências coloniais sobre os países mais pobres e pressioná-los para que
não se desenvolvam e coloquem os seus preciosos recursos naturais à
disposição dos mais poderosos.
Como
alerta a abertura do excelente programa do jornalista Mário Silva na
televisão venezuelana, CUIDADO!
Sérvulo Siqueira |