9 de outubro de
2014
Eleição no Brasil envolve disputa de poder entre Obama e Putin.
E Dilma pode ser a bola da vez...
Embora não ocupe o primeiro plano dos debates, a participação do Brasil
no grupo do BRICS ‒ organização também integrada pela Rússia, Índia,
China e África do Sul ‒ pode estar por trás do extenso arco de alianças
em torno do candidato direitista Aécio Neves na corrida presidencial de
2014.
Como
se sabe, os BRICS ‒ sob a liderança econômica de Beijing e política de
Moscou ‒ vêm alavancando o comércio mundial, o que os contrapõe aos
Estados Unidos cuja economia passa no momento por uma profunda crise e
enfrenta graves desafios.
Habituados a considerar a América Latina como seu quintal (backyard,
como o denominam) e forçados a aceitar o crescente intercâmbio comercial
da China e da Rússia com seus antigos satélites na região, os ianques
vêm ainda com crescente desconfiança as posições de independência que os
governos de Luís Inácio da Silva e de Dilma Rousseff têm tomado nos
organismos multilaterais como o G20 e os sinais de associação que
começam a se formar entre Argentina, Venezuela, Bolívia, Equador e
Nicarágua e o grupo formado pelo BRICS.
Como
a desconfiança em relação à política belicista dos Estados Unidos é cada
vez mais crescente e não há condições para o retorno dos golpes de
estado do passado ‒ embora modalidades diferentes de derrubada de
governos legítimos tenham sido executadas no passado recente em Honduras
e no Paraguai ‒ o caminho mais plausível parece ser o recurso às
revoluções coloridas e às campanhas eleitorais tumultuadas por acusações
infundadas de corrupção, tráfico de influência e também em alguns casos
por assassinatos programados.
Algumas atitudes independentes dos governos do Partido dos Trabalhadores
como a não continuação do processo de privatização da Petrobras iniciado
pelo governo entreguista de Fernando Henrique Cardoso, a descoberta das
reservas submarinas do pré-sal, a recusa em entregar os bancos estatais
remanescentes (Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal) à sanha da
banca privada, assim como o crescente intercâmbio comercial com os BRICS
fizeram com que os EUA começassem a temer que o “mau exemplo” do Brasil
pudesse exercer uma indesejável influência sobre outros países menores e
menos poderosos do subcontinente.
Não
tendo obtido sucesso nas eleições de 2010, os setores mais reacionários
do nosso país ‒ que têm naturalmente o seu epicentro em Washington ‒
voltaram à carga em 2014, utilizando de novo como isca a candidatura de
Marina da Silva, desta vez sob a bandeira de um travestido Partido
Socialista Brasileiro depois que este foi abandonado por alguns de seus
principais membros em seguida a uma clara deriva à direita de sua
direção.
No
momento, aproveitando-se da fragilidade atual do partido do governo
cujos importantes líderes se encontram na cadeia após um processo
político em que sua culpabilidade não foi devidamente comprovada,
preparam a sua estratégia e organizam a linha de combate para o que
consideram ser o ataque final em que tentarão tomar o poder do partido
dominante.
Para
executar o seu plano, o império americano e seus esbirros no Brasil
construíram uma ampla teia de alianças que abrange o agronegócio, os
bancos, setores do funcionalismo público que agem como uma quinta
coluna, a classe média sempre assustada e essencialmente conservadora e
‒ como o candidato de direita não tem projetos ‒ os meios de
comunicação, que blindam o passado nebuloso e enevoado de Aécio Neves e
atuam na prática como o verdadeiro partido de oposição.
No
momento em que os Estados Unidos e a Europa tentam sufocar a Rússia por
meio de sanções, uma vitória da candidata Dilma Rousseff irá certamente
fortalecer os BRICS e sua política hoje claramente distanciada do
belicismo de Israel e dos países da Organização do Tratado do Atlântico
Norte (OTAN) que aspiram a uma dominação mundial.
As
eleições de 2014 ocorrem num momento em que, pela primeira vez na nossa
história, não estamos mais na condição de vassalos de uma potência
estrangeira. Por outro lado, pela segunda vez temos hoje, como nos
tempos do chanceler San Tiago Dantas, uma política externa independente
e não é por certo estranho que ‒ exatamente como durante o governo João
Goulart ‒ o Brasil sofra agora um cerco verdadeiramente monumental que
tem como exato objetivo a interrupção dos avanços sociais que foram
alcançados nos últimos anos e que podem levar a um aumento de
consciência da população.
Para
impedir que isto ocorra, as atrasadas elites do Brasil ‒ hoje
concentradas, como em 1932, no Estado de São Paulo ‒ recorrem aos mais
sórdidos expedientes como o racismo e chegam até mesmo a propor a
matança sistemática de nordestinos, como ocorreu recentemente em um
diálogo entre profissionais da classe médica numa rede social.
No
primeiro semestre desse ano, o jornalista Wayne Madsen informou que um
dos principais objetivos do presidente Barack O’bomber (apelido que
recebeu por seu hábito de bombardear de forma indiscriminada vastas
regiões do planeta) era a implosão dos BRICS, em seu propósito de
quebrar a emergente liderança agora exercida por Vladimir Putin na
Rússia.
As
eleições presidenciais, que terão lugar no próximo dia 26 de outubro,
oferecem ao presidente afro-americano a possibilidade de recuperar um
poder ‒ que muito em função dos seus erros, ganância e truculência ‒ os
Estados Unidos vêm perdendo em nosso país. Em consonância com esse
propósito, seu candidato Aécio Neves já anunciou uma política, que
propõe a volta das privatizações, o aumento das tarifas públicas e o
tradicional arrocho fiscal, temas que geralmente fazem parte do
receituário do Fundo Monetário Internacional de triste memória para
todos os brasileiros
Por
outro lado, estar alinhado com um país cuja política tem consistido em
bombardear e dividir – como vem fazendo de forma sistemática o governo
americano no Iraque, Afeganistão, Líbia, Síria e mais recentemente na
Ucrânia – pode não trazer muitos votos para o candidato que hoje
personifica a nova cara da direita no Brasil. Como sabemos, essa
estratégia não produziu os resultados ambicionados e, ao contrário, tem
isolado os Estados Unidos do resto do mundo.
Será
que voltaremos aos tempos em que nossos ministros das Relações
Exteriores pronunciavam frases como “o que é bom para os Estados Unidos
é bom para o Brasil” (Juracy Magalhães) e “o Brasil está fadado a ser,
por tempo indefinido, um satélite dos Estados Unidos” (Raul Fernandes)?
Sérvulo Siqueira
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