7 de março de 2008
Em boa hora
e logo no começo do processo, Fidel Castro – um vitorioso estrategista
político e militar hoje convertido em analista da globalização
neoliberal – já advertiu sobre os tambores de guerra que começam a soar
entre a Colômbia, país títere dos Estados Unidos na América do Sul, a
Venezuela e o Equador.
Dadas as
velhas práticas do império ianque – no momento em crise interna e
externa – é de se acreditar que os propósitos da invasão e dos
bombardeios do território equatoriano representem a repetição de uma
estratégia genocida no subcontinente, que objetiva a transformação da
Colômbia num país associado na região, com as Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia (FARC) – assim como todos os outros
movimentos de libertação nacional – sendo tratados como uma espécie de
“território palestino” sitiado.
Apesar dos
temores de Hugo Chávez e Evo Morales, é pouco provável que os Estados
Unidos, já virtualmente derrotados no Afeganistão e no Iraque, disponham
de força militar para se envolverem diretamente na selva amazônica, a
não ser por meio da instalação de ameaçadoras bases militares e de
bombardeios aéreos.
No entanto,
desde as tentativas do Projeto Camelot, um plano da máquina de guerra
americana para a criação de uma fortaleza militar que pudesse resguardar
os seus interesses contra os movimentos de libertação e independência no
subcontinente, concebido pelo presidente assassinado John Kennedy,
sabe-se que o chamado Tio Sam jamais cogitou perder a América Latina e
seus imensos espaços físicos e humanos – dotados de matérias-primas e de
mão de obra barata – que se estendem do sul do Rio Grande até a
Patagônia.
Na verdade,
muito ao contrário, o império possui hoje verdadeiros planos para a sua
anexação econômica, que vão desde as conversas de fala mansa sobre livre
comércio e outras miragens do neoliberalismo, a Área de Livre Comércio
das Américas (ALCA), o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco
Mundial, etc. até a blindagem do presidente da Colômbia, persistente
transgressor dos direitos humanos em seu país e que recebe ajuda militar
dos EUA no valor de um bilhão de dólares ao ano. Não seria demais
lembrar que ainda subjaz nas posturas preconceituosas e racistas dos
gringos para conosco o lema da antiga diplomacia da canhoneira de
Theodore Roosevelt: “Ande de forma cuidadosa mas carregue um grande
porrete”.
Teme-se que
a invasão do território equatoriano pelas mais sofisticadas forças
armadas da América Latina, com a cobertura de satélites
norte-americanos, tenha o propósito de escalar o conflito e abarcar num
só golpe, além do Equador e da Venezuela, também o Brasil – um país de
politicas neoliberais e que hoje se caracteriza por defender de forma
muito veemente os interesses econômicos de suas elites nos organismos
multilaterais – e a Bolívia, cujo modelo indígena sofre um processo de
desestabilização política e militar.
Como Rafael
Correa e Hugo Chávez têm a obrigação constitucional de preservar a
integridade física de seus espaços territoriais, há sempre o risco de
que conflitos de fronteira possam se transformar em contínuas ações
beligerantes.
Ativo
protagonista da cena mundial dos últimos 50 anos, tendo apoiado de forma
ativa as lutas pela libertação de Angola e da África do Sul, Fidel
Castro, agora desfrutando do seu posto de observador engajado das lutas
populares em todo o mundo, talvez esteja se lembrando de um episódio –
cuja memória é ainda recente – em que os mesmos Estados Unidos ordenaram
ao seu então aliado Saddam Hussein invadir o território iraniano, o que
levou a uma prolongada guerra de quase dez anos e custou – segundo
muitos observadores – a vida de quase um milhão de pessoas.
No passado
como nos dias atuais, o objetivo era criar um pretexto para destruir um
adversário político, convertendo-o – para fins de estratégia de poder –
num inimigo militar.
A História,
como já foi dito, às vezes se repete e é preciso aprender as suas
lições. Se isto ocorrer mais uma vez, o invasor poderá ser novamente
derrotado. Se como afirmou recentemente o presidente Rafael Correa, a América Latina não estiver vivendo uma época de mudança mas sim uma mudança de época, com a tomada de consciência do seu próprio destino, então a batalha dos nossos povos está apenas começando.
Sérvulo Siqueira |